Crise hídrica: comitê vê ‘relevante piora’ e recomenda mais medidas para preservar hidrelétricas

País terá de usar os estoques hídricos armazenados nas usinas e flexibilizar regra de operação do rio São Francisco para tentar evitar apagão e racionamento de energia neste ano.
Crise hídrica: comitê vê 'relevante piora' e recomenda mais medidas para preservar hidrelétricas

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão presidido pelo Ministério de Minas e Energia, afirmou nesta terça-feira (24) que há uma “relevante piora” das condições hídricas no país.

Segundo o comitê, é imprescindível manter todas as medidas em andamento e adotar novas providências para manter os reservatórios das hidrelétricas.

“Conforme destacado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a exemplo do verificado nos últimos meses, predomina a degradação dos cenários observados e prospecções futuras, com relevante piora, fazendo-se imprescindível a adoção de todas as medidas em andamento e propostas, destacadamente a alocação dos recursos energéticos adicionais e flexibilizações de restrições hidráulicas”, diz o comitê em nota.

O colegiado se reuniu extraordinariamente nesta terça para avaliar das condições do sistema elétrico nacional e propor a adoção de novas medidas. As medidas recomendadas são:

  • flexibilizações temporárias da regra de operação do Rio São Francisco – a nota não explica de que forma. “Considerando a importância de se dispor de recursos energéticos adicionais a fim de assegurar as condições de atendimento eletroenergético, e minimizando, assim, a degradação do armazenamento nos reservatórios das usinas hidrelétricas nas regiões Sudeste e Sul do País”, afirma o CSME;
  • uso dos estoques hídricos armazenados – a nota não traz mais detalhes.

As medidas foram recomendadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico e acatadas pelo CMSE. O tema seguirá para apreciação da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), criada para gerir a crise hídrica. A câmara também é presidida pelo Ministério de Minas e Energia. A reunião da CREG acontece nesta quarta (25).

O objetivo é evitar que o país passe por apagões e tenha que recorrer ao racionamento compulsório de energia. O ONS já admitiu, em nota técnica, dificuldades para atender a demanda de energia do país em outubro e, principalmente, novembro.

Essa dificuldade viria do “esgotamento de praticamente todos os recursos [de potência de energia] no mês de novembro”.

Crise hídrica

O país enfrenta a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. Os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia do país, estão com 23% da capacidade de armazenamento, nível menor que o registrado em agosto de 2001, quando o país enfrentou racionamento de energia.

Em novembro, quando começa o período chuvoso, o ONS prevê que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste vão chegar a 10% da capacidade.

Para preservar água nos reservatórios das hidrelétricas, o governo vem acionando as usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes. Também vem adotando medidas excepcionais, em parceria com as agências reguladoras e com o ONS, como:

  • acionamento de usinas termelétricas adicionais;
  • previsão de leilão para contratar usinas “reservas” de geração de energia;
  • ampliação da possibilidade de acionamento de usinas termelétricas sem contrato vigente de comercialização de energia;
  • aumento da importação de energia da Argentina e Uruguai;
  • operação excecional de parte dos sistemas hídricos;
  • flexibilização dos limites de armazenamento e vazão das usinas hidrelétricas; e
  • flexibilização dos limites de segurança das linhas de transmissão, com o objetivo de “transportar” mais energia do Nordeste e do Norte para o Sudeste e Centro-Oeste; e
  • programa que incentivará grandes consumidores, como a indústria, a economizarem energia elétrica e deslocarem seu consumo para fora do horário de pico em troca de uma compensação financeira.